Cooperação para o DesenvolvimentoInovaçãoSociedade Civil Organizada

Créditos da imagem: Ulrichw via Pixabay.


O estudo “Inovação e Mudança nas ONGD Portuguesas”, realizado pela Oficina Global/CEsA com o apoio e colaboração da Plataforma Portuguesa da ONGD e financiado pelo Camões, I.P., foi publicado em março de 2022. O trabalho de autoria das investigadoras Ana Luísa Silva e Renata Assis faz um mapeamento da cultura, capacidade e estruturas de apoio à inovação bem como dos entraves à inovação existentes nas ONGD portuguesas e propõe um conjunto de reflexões sobre possíveis caminhos para a construção de um ecossistema mais propício à inovação no sector do desenvolvimento. Neste terceiro artigo da segunda parte da série sobre “Inovação para o Desenvolvimento” o foco é a cultura de inovação e analisamos as estruturas de apoio à inovação das ONGD portuguesas. 


Perceções sobre cultura de inovação e estruturas de apoio à inovação 


Quase metade (46%) das ONGD portuguesas afirma dispor de uma estratégia, política e/ou plano de inovação, desenhado para promover a mudança e/ou melhoria nos seus processos, produtos e serviços. Para analisar as perceções das ONGD sobre a cultura de inovação e as estruturas de apoio à inovação existentes, buscou-se observar a forma como as organizações inovam – processos existentes para gerar e desenvolver novas ideias; forma como testam as novas ideias; capacidade de difusão de inovações (fazer scale up). Essa análise considera o tempo dado aos colaboradores para se dedicarem a projetos/ideias inovadores e também para melhorarem suas competências ou adquirirem competências novas e a forma como as ONGD colaboram com comunidades locais e com outras organizações bem como a existência de processos de monitorização, avaliação e aprendizagem contínua. Neste artigo destacamos alguns resultados interessantes do inquérito realizado para o estudo


Gestão do processo de inovação


No geral, as organizações tendem a olhar de forma positiva para a forma como gerem os processos de inovação, desde a fase de desenvolvimento de ideias até à difusão das inovações. Os principais responsáveis por inovar são a direção e a organização como um todo, sendo muito pouco frequente a existência de unidades, departamentos ou mesmo colaboradores com dedicação exclusiva à inovação. E apesar da falta de tempo dos colaboradores ser apontada como um obstáculo à inovação, as organizações afirmam dar tempo aos seus colaboradores para se dedicarem à inovação ou para desenvolverem as suas competências. 

Estratégia, política e/ou plano de inovação 


No que diz respeito ao orçamento disponível, a grande maioria das ONGD (73%) afirma não ter orçamento disponível para inovar e 23% tem orçamento para inovação integrado em projetos específicos. 

Orçamento para inovação 


Trabalho colaborativo 


O trabalho colaborativo é uma dimensão importante da inovação social e da própria cooperação para o desenvolvimento. As ONGD, em particular, são tradicionalmente vistas como defensoras da participação das comunidades locais nos processos de desenvolvimento. O estudo mostrou uma perceção positiva do trabalho colaborativo nas ONGD, sobretudo no que diz respeito a utilização de metodologias participativas junto dos públicos-alvo. 

Perceções sobre trabalho colaborativo em ONGD que possuem (Sim) e não sabem se ou não possuem estratégia/política de inovação (Não/Não Sei)  


Monitorização, avaliação e aprendizagem contínua 


A gestão dos processos de inovação está intimamente ligada à aprendizagem contínua nas inovações. Os sistemas de monitorização e avaliação e outras atividades de aprendizagem contínua permitem às organizações não só demonstrarem as suas realizações imediatas como analisar o impacto das suas intervenções no contexto social que pretendem mudar.  


Pouco mais de metade (54%) das ONGD tem sistemas de monitorização e avaliação do seu trabalho, quase sempre ao nível dos projetos e cerca de metade a nível organizacional. No que diz respeito a outras atividades de aprendizagem contínua, a grande maioria das organizações faz partilha de experiências a nível interno e externo. No entanto, menos da metade tem por hábito documentar as suas práticas e processos e apenas cerca de um terço produz estudos no âmbito das suas atividades. 

Sistemas de monitorização e avaliação 
Atividades de aprendizagem contínua realizada pelas ONGD 


Entre os obstáculos que dificultam a aprendizagem contínua nas suas organizações, estão principalmente a falta de recursos financeiros, a falta de tempo dos colaboradores e a prioridade dada a projetos e angariação de fundos. Uma minoria de ONGD menciona ainda o facto de as entidades financiadoras não priorizarem/valorizarem a aprendizagem contínua nas organizações e nos projetos. 


Algumas pistas de reflexão relativamente à cultura de inovação nas ONGD portuguesas 


A inovação está claramente presente na agenda, estratégias e prioridades das ONGD portuguesas. Ainda assim, metade das organizações inquiridas afirmam não ter estruturas formais para incentivar e ajudar a gerir a inovação nas suas organizações. Da mesma forma, apenas pouco mais de metade das ONGD inquiridas afirmam ter sistemas de monitorização e avaliação do seu trabalho.  


O mesmo acontece em relação aos sistemas e práticas de aprendizagem contínua. Embora as organizações tenham uma perceção positiva e afirmem usar os resultados dos seus processos de aprendizagem contínua para melhorar as suas práticas, sem mecanismos formais de retenção de conhecimento e aprendizagem é difícil acreditar que seja possível uma utilização sistemática de resultados na melhoria de práticas. 


Por outro lado, uma caraterística promissora e específica das ONGD portuguesas na área da inovação é a utilização de metodologias participativas para ouvir, dialogar e aprender com as comunidades locais, uma prática fundamental para o desenvolvimento de inovação inclusiva. 


O estudo “Inovação e Mudança nas ONGD Portuguesas”, realizado pela Oficina Global/CEsA, foi publicado em março de 2022 e está disponível para download aqui. No primeiro artigo da sequência desta série apresentamos as prespetivas de inovação no contexto da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. No segundo, exemplos práticos de inovações realizadas pelas ONGD portuguesas. Este terceiro artigo conclui a série de textos sobre “Inovação para o Desenvolvimento”.  


A primeira parte da série destacou os argumentos do estudo “O Futuro da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento: fragmentação, adaptação e inovação em um mundo em mudança” em três artigos: A CID no Mundo Multiplexo: complexidade e inovação; O sector privado na CID do Mundo Multiplexo e Os desafios das ONGD na nova CID. 

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