Cooperação para o DesenvolvimentoInovaçãoSociedade Civil Organizada

Créditos da imagem em destaque: Amina Abdul Salam via The Greats (CC-BY-NC-SA).


O estudo “Inovação e Mudança nas ONGD Portuguesas”, realizado pela Oficina Global/CEsA com o apoio e colaboração da Plataforma Portuguesa da ONGD e financiado pelo Camões, I.P., foi publicado em março de 2022. O trabalho de autoria das investigadoras Ana Luísa Silva e Renata Assis faz um mapeamento da cultura, capacidade e estruturas de apoio à inovação bem como dos entraves à inovação existentes nas ONGD portuguesas e propõe um conjunto de reflexões sobre possíveis caminhos para a construção de um ecossistema mais propício à inovação no sector do desenvolvimento. Na segunda parte da série sobre “Inovação para o Desenvolvimento”, destacamos em 3 artigos os argumentos principais do estudo, começando por entender as perspetivas de inovação no contexto da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. 


A Inovação para o Desenvolvimento 


A inovação é um conceito sujeito a sujeito a múltiplas interpretações. Por conseguinte, quando falamos de inovação é preciso identificar perspetivas e práticas dos atores em análise, de forma a perceber o significado dado ao conceito. A perspetiva clássica de inovação deriva de uma visão schumpeteriana e associa a inovação ao avanço tecnológico e criação de valor económico. Por outro lado, no contexto atual da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID), esses aspetos não são centrais e, portanto, a inovação para o desenvolvimento está mais próxima da inovação social. 


As inovações sociais respondem a necessidades e objetivos coletivos de promoção do bem-estar das pessoas e do planeta. Assim, são consideradas inovações sociais soluções/ideias/invenções postas em prática para resolver problemas sociais e ambientais e também que, de um ponto de vista mais amplo, tem como verdadeira finalidade a transformação social. 


No entanto, ainda que a agenda da inovação na CID esteja inserida no campo da inovação social, as perspetivas sobre o que é inovação para o desenvolvimento variam de acordo com os atores do sector e contexto em que trabalham. 


Atualmente, a inovação para o desenvolvimento pode ser definida simplesmente como a implementação de novas tecnologias, produtos, serviços, processos, modelos de negócio/sociais/organizacionais, parcerias e mecanismos de financiamento que procuram resolver problemas complexos de desenvolvimento nos países em vias de desenvolvimento ou pode dar ênfase à implementação dessas novas soluções em larga escala, contribuindo para a transformação social ou mudança sistémica.  

Modelo dos 4P da Inovação – Fonte: Tidd e Bessant, em Bernardo 2019 


Além disso, é possível apontar para uma dupla direccionalidade nas atividades dos atores de desenvolvimento na área da inovação:  


• Inovação externa ou “virada para fora” (outwards): inovação que tem como objeto os desafios e problemas de desenvolvimento, que nasce do imperativo de encontrar respostas inovadoras para os problemas e necessidades dos públicos-alvo nos países em desenvolvimento;  


• Inovação interna ou “virada para dentro” (inwards): inovação que tem como objeto o próprio sistema de CID e os seus atores, métodos e mecanismos, e que é fruto de pressões para transformar o sistema de Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) e aumentar a sua eficiência, eficácia e impacto. 


Perspetivas de inovação no contexto das ONGD Portuguesas 


O que significa inovação para as ONGD portuguesas? Quais são as suas perspetivas e como é que estas se enquadram na agenda da inovação para o desenvolvimento? À semelhança do que acontece com as ONGD de outros países, o nosso estudo mostra que não há um consenso relativamente à definição de inovação no âmbito do trabalho das organizações portuguesas – o que é também um reflexo da diversidade de organizações e contextos de trabalho. As definições de inovações submetidas ao inquérito do estudo mostram perspetivas amplas e multifacetadas sobre a inovação e também sobre o processo de inovação social, como se observa pela nuvem de palavras na imagem.  

Nuvem de palavras-chave para inovação


A dupla direccionalidade também está presente na visão de inovação das ONGD portuguesas. Quando o objeto da inovação é o trabalho realizado pelas ONGD, inovar é encontrar respostas alternativas para responder às necessidades do público-alvo. Por outro, lado, quando o objeto da inovação é a própria organização e o seu funcionamento, a inovação é vista como uma ferramenta para melhorar processos e procedimentos, com o objetivo de aumentar a eficiência da organização. 

Principais ideias extraídas das definições de inovação fornecidas pelas ONGD e respetivas direccionalidades 


De modo geral, a inovação é vista e utilizada principalmente como uma ferramenta para melhorar processos, aumentar a eficiência e o impacto do trabalho desenvolvido pelas ONGD. A inovação não é, no entanto, vista pelas ONGD portuguesas como caminho para procurar alternativas aos modelos de desenvolvimento, como sinónimo de transformação social e mudança sistémica ou ainda no quadro do empreendedorismo social.  


A inovação está presente na agenda, estratégias e prioridades das ONGD portuguesas, mas para avançar e ir além de resultados imediatos, é preciso que estas organizações comecem a olhar para a inovação para o desenvolvimento de uma forma holística e enquanto abordagem de construção de mudança social e sistémica – não só como ferramenta de resolução de problemas e adaptação a novas realidades. 


O estudo “Inovação e Mudança nas ONGD Portuguesas”, realizado pela Oficina Global/CEsA, foi publicado em março de 2022 e está disponível para download aqui. No segundo artigo desta série vamos olhar para a inovação na prática e dar a conhecer alguns exemplos de inovação de ONGD portuguesas. 

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