Duas perguntas à…
…Plataforma Portuguesa das ONGD
‘Parceria’ é uma palavra na ordem do dia. Na vossa opinião, qual é o papel da academia nas parcerias com a sociedade civil (e, em particular, com as ONGD)?
A razão de ser do foco que hoje se coloca nas “parcerias” tem que ver com a importância de olharmos cada vez mais para o modo como trabalhamos enquanto elemento determinante na criação de impacto, especialmente num contexto marcado por desafios globais complexos. A mobilização de complementaridades e conhecimentos específicos e a otimização de recursos e saberes são fundamentais para criar impactos positivos. Ao associarem-se à academia, as ONGD acedem ao rigor teórico na abordagem aos temas em que trabalham e a uma base científica na análise dos problemas com que se deparam. Este conhecimento e capacidade analítica, aliados à prática e ao conhecimento das realidades e das necessidades das populações, potencia o impacto das intervenções na medida em que as adequa às situações concretas.
Estas parcerias são também cruciais para o trabalho de advocacy das ONGD, uma vez que permitem a definição de propostas fundamentadas (e por isso mais sólidas) para influenciar as políticas públicas. O rigor científico, combinado com a vivência prática das ONGD nos terrenos em que operam, fortalece, uma vez mais, a argumentação em prol de mudanças estruturais.
A implementação de parcerias genuínas, baseadas em princípios e interesses comuns, garantem ainda uma aprendizagem contínua e mutuamente benéfica entre as partes, em que a academia aprende com a experiência das ONGD e tem acesso a informações práticas e contextuais, e as ONGD sentem-se mais sustentadas teórica e analiticamente na sua ação.
Como se constroem parcerias entre estes dois mundos com potencial de promover a mudança?
A construção de parcerias genuínas entre a academia e a sociedade civil deve assentar no reconhecimento de que, não só o trabalho desenvolvido por estes dois atores se complementa entre si, mas também de que, em certa medida, este trabalho depende de uma interação próxima.
Um exemplo concreto disto é a parceria entre a Oficina Global do CEsA e a Plataforma Portuguesa das ONGD, que entendemos ser significativo para o que referimos anteriormente. Em março de 2022, as duas organizações realizaram conjuntamente uma ação de formação sobre Inovação nas ONGD, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a inovação nas práticas das Associadas da Plataforma. A formação decorreu de um projeto implementado pela Oficina Global, no qual a Plataforma participou ativamente nas atividades realizadas em 2021 e 2022, como o Estudo sobre Inovação e Mudança nas ONGD Portuguesas e dois webinários subordinados ao mesmo tema, as quais permitiram a identificação das necessidades formativas e enformaram um trabalho colaborativo contínuo, entre uma entidade da academia e uma rede da sociedade civil, que permitiu a definição de prioridades e metodologias de intervenção adequadas à realidade das organizações e às necessidades do setor.