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“É uma vida difícil, que nos ensina a resistir aos caprichos da natureza e a incerteza das sementeiras; uma vida difícil que lhe vergou o corpo já franzino. Da terra trazia comida para ele, a mulher e os onze filhos. Da terra trazia o dinheiro para comprar roupa e mandar as crianças à escola. Na terra, conservava a memória dos seus antepassados, um diamante que tinha a obrigação de passar intacto às gerações futuras.” Com esta citação, retirada do documentário moçambicano “Terra de todos, Terra de alguns, a Investigadora do Observatório do Meio Rural (OMR) e Doutoranda em Estudos de Desenvolvimento no ISEG, Máriam Abbas, iniciou o debate sobre “As mudanças climáticas e os desafios para o amanhã”.  


Também participaram da conversa virtual em homenagem ao Dia Mundial da Terra a Representante da Direção da Associação Sistema Terrestre Sustentável (ZERO), Susana Fonseca, e o Representante da Climáximo, Tomás Hipólito. A moderação do debate, promovido pela Oficina Global em parceria com o Núcleo Académico para a Proteção Ambiental (NAPA/ISCSP), ficou por conta da dupla de influenciadores digitais Bruno Lisboa e João Kraesk (Livre Para).  


Abbas, que é moçambicana, explica que em seu país natal o sentido literal de ‘Terra’ não é apenas o do espaço físico, mas também o de um modo de vida, o de patrimônio. Daí, a importância do Dia Mundial da Terra, celebrado anualmente em 22 de abril. Para Fonseca, esta data permite trazer o meio ambiente para o debate público: “Nós temos que, cada vez mais, ter esses temas presentes no nosso dia a dia para que possamos integrar cada vez mais cuidados e práticas que nos levem a ser mais amigos da Terra nos nossos afazeres diários”.  


Hipólito enfatiza a necessidade de, neste contexto de isolamento em que vivemos atualmente devido à pandemia, não esquecermos que o aquecimento global ainda é um desafio para toda a sociedade: “Neste momento, nós, como sociedade civil, somos a nossa única esperança, porque as instituições e o sistema vigente estão a falhar”. Para ele, enfrentar as alterações climáticas implica mudanças políticas profundas que podem não interessar os setores mais ricos. Fonseca explica que para que haja uma mudança estrutural significativa, é preciso que a legislação e os incentivos governamentais conduzam a sociedade rumo à sustentabilidade.  


Para Abbas, as políticas e estratégias governamentais implementadas em alguns países não são capazes de atingir objetivos como a redução da pobreza e a garantia da segurança alimentar, porque não levam em conta as necessidades reais das populações rurais. De acordo com a Investigadora, as populações pobres que habitam as zonas rurais dos países em desenvolvimento gerem a maior parte das terras agrícolas do mundo e são responsáveis pela maior parte da produção de alimentos: “Por isso, elas têm um papel muito importante na redução da pobreza, na garantia da segurança alimentar, na proteção da terra, do ambiente e também dos recursos naturais”. 


Fonseca acredita que a raiz de muitos dos problemas ambientais e sociais que enfrentamos hoje está no nosso modelo voraz de produção e consumo. Para ela, a economia deveria estar a serviço das pessoas e se adaptar aos limites que o ambiente impõe ao crescimento. Susana defende uma maior mobilização dos jovens em prol de transformações urgentes e estruturais visando melhorar a relação entre economia, sociedade e ambiente. O que não faltam são novos modelos econômicos com essa proposta, como a Economia Donut e o Buen Vivir 


“É preciso que as leis e as políticas estejam centradas nas pessoas, sejam desenvolvidas em benefício das pessoas. É preciso que essas estratégias sejam integradas e multidisciplinares e que beneficiem de fato essas pessoas e comunidades vulneráveis. Isto só vai acontecer com o apoio da sociedade civil e de organizações internacionais que tenham poder e vantagens em relação às comunidades desfavorecidas”, conclui Abbbas. 

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