Educação para o DesenvolvimentoPaz

Créditos da imagem: Asis Percales via The Greats.


Ao longo dos últimos anos, a Paz tem sido tema recorrente. Bem sabemos que a existência de zonas de conflito armado não é novidade no mundo contemporâneo. Contudo, após a madrugada do dia 23 de fevereiro de 2022, com o eclodir de um conflito armado dentro do território europeu, parece que ficámos mais conscientes das atrocidades cometidas em cenários de guerra, da mobilização em prol de pessoas que se encontram a sofrer e de uma urgente necessidade de Paz.  


Desde o arranque do projeto ED-Comunicar – do conhecimento à mobilização que o tema “Paz” estava na linha de ação, uma vez que o projeto se propôs a abordar os seis temas do Referencial de Educação para o Desenvolvimento. Contudo, apresentar este estudo, produzido pela Associação A3S, sem fazer referência à realidade onde o mundo se encontra mergulhado, seria alhear o projeto de todos estes eventos. E, no fundo, a premissa deste projeto é precisamente que todos os cidadãos e cidadãs tenham a capacidade de poder ler estes eventos à luz de uma lente muito particular: a Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global (EDCG). Ao observarmos as situações de guerra em curso na Europa e no Médio Oriente, torna-se evidente que a EDCG não é apenas um conceito teórico, mas uma necessidade. Estes conflitos sublinham a interdependência das nações e a urgência de abordar as causas profundas da violência, da instabilidade e do sofrimento humano.    


Assim, é possível encontrar um novo estudo da coleção “A urgência de ler o mundo”, dedicado à temática da Paz, que não procura produzir conclusões ou recomendações, mas sim levar quem o lê a refletir na forma como observa o tema. Partindo de uma linha cronológica que coloca em paralelo momentos da história que serviram para construir a paz ou afastar-nos dela, o estudo argumenta que a Paz é muito mais que a ausência de um conflito armado, podendo encontrar-se ameaçada em qualquer local em que o direito a uma vida plena e de bem-estar esteja a ser colocado em causa.  


As autoras do estudo consideram a EDCG como uma “bússola” imprescindível em processos de construção de Paz, sejam eles individuais ou coletivos, reconhecendo as interdependências entre pessoas, sociedades e natureza. A violência contra qualquer um desses elementos é vista como prejudicial a todos/as. A criação de espaços contra-hegemónicos é um aspeto característico da EDCG, pois nestes é possível resistir à perpetuação de relações opressivas, ao imediatismo e à subserviência às lógicas de mercado dominantes. Para isso, é necessário enfrentar processos desafiadores e desconfortáveis que permitam a desconstrução da violência sistémica presente na sociedade.  


Um outro aspeto específico que a EDCG promove é a reflexividade crítica, desempenhando esta um papel crucial na promoção da Paz estrutural, incentivando o pensamento crítico sobre si mesmo e tudo o que o rodeia. Isso é possível observar nas duas ferramentas propostas em todos os estudos produzidos nesta coleção: o Barómetro de EDCG (pág.. 47) e o Roteiro Autorreflexivo (pág.50). Assim, pensar sobre os conflitos atuais à luz da EDCG capacita cada pessoa a:  


– Ser empática e compreensiva. A EDCG promove a empatia e a compreensão, elementos essenciais para a resolução de conflitos. Incentiva as pessoas a olharem para além das fronteiras nacionais e a ligarem-se às histórias humanas por detrás dos títulos dos jornais; 


– Ter uma participação ativa na sociedade. Dotados de uma perspetiva global, é mais provável que os indivíduos se envolvam ativamente nos esforços de resolução de conflitos e defendam soluções pacíficas;  


– Resolver problemas complexos. As atuais situações de guerra são profundamente complexas, exigindo soluções inovadoras e sustentáveis. A educação para a cidadania global equipa os indivíduos com as competências de pensamento crítico necessárias para resolver estes problemas multifacetados. 


– Promover a defesa e a mudanças de políticas. Num mundo globalizado, os cidadãos desempenham um papel importante na influência das políticas e decisões dos seus governos. A educação habilita as pessoas a serem defensores efetivos da paz. 


Vivemos desafios globais intensos que levam a uns ao assoberbamento e paralisação e a outros ao alheamento egoísta. Trabalhar no campo do Desenvolvimento Internacional traz esperança de que o mundo possa ser um lugar melhor. Para a promoção da empatia e do envolvimento coletivo neste setor tão particular requer esforços que nos ligam de forma intrínseca à EDCG. O ED-Comunicar procura trazer esta compreensão, mostrando que qualquer forma de construção de paz começa com educação. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados *

Enviar